17 julho 2012

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER


Hoje decidi falar sobre uma assunto polêmico e que deve ser combatido com mais rigor, não só no Brasil mas no mundo.
Desde os primórdios a mulher vem sido submetida a todos os caprichos masculinos, sendo sempre reprimida, oprimida, desvalorizada e até chegando a ser escravizada pelos homens.
Segundo Tânia Pinafi "a violência contra a mulher é produto de uma construção histórica — portanto, passível de desconstrução — que traz em seu seio estreita relação com as categorias de gênero, classe e raça/etnia e suas relações de poder. Por definição, pode ser considerada como toda e qualquer conduta baseada no gênero, que cause ou passível de causar morte, dano ou sofrimento nos âmbitos: físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública quanto na privada.
Para se compreender o fenômeno da violência com base no sexismo se faz necessário um breve retorno ao legado investido à mulher pela cultura ocidental.
A posição social da mulher é norteada  pelas óticas biológica e social, determinantes para a desigualdade de gênero.

Por exemplo, na Grécia, os mitos contavam que, devido à curiosidade própria de seu sexo, Pandora tinha aberto a caixa de todos os males do mundo e, em conseqüência, as mulheres eram responsáveis por haver desencadeado todo o tipo de desgraça. A religião é outro dos discursos de legitimação mais importantes. As grandes religiões têm justificado ao longo dos tempos osâmbitos e condutas próprios de cada sexo. (PULEO, 2004, p. 13) 
Na Grécia Antiga havia muitas diferenças entre homens e mulheres. As mulheres não tinham direitos jurídicos, não recebiam educação formal, eram proibidas de aparecer em público sozinhas, sendo confinadas em suas próprias casas em um aposento particular (Gineceu), enquanto aos homens, estes e muitos outros direitos eram permitidos.
Em Roma “elas nunca foram consideras cidadãs e, portanto, não podiam exercer cargos públicos” (FUNARI, 2002, p. 94). A exclusão social, jurídica e política colocavam a mulher no mesmo patamar que as crianças e os escravos. Sua identificação enquanto sujeito político, público e sexual lhe era negada, tendo como status social a função de procriadora.
Com o advento da cultura judaico-cristã tal situação pouco se alterou. O Cristianismo retratou a mulher como sendo pecadora e culpada pelo desterro dos homens do paraíso, devendo por isso seguir a trindade da obediência, da passividade e da submissão aos homens, — seres de grande iluminação capazes de dominar os instintos irrefreáveis das mulheres — como formas de obter sua salvação. Assim a religião judaico-cristã foi delineando as condutas e a ‘natureza’ das mulheres e incutindo uma consciência de culpa que permitiu a manutenção da relação de subserviência e dependência. Mas não foi só a religião que normatizou o sexo feminino, a medicina também exerceu seu poder, apregoando até o século XVI a existência de apenas um corpo canônico e este corpo era macho. Por essa visão a vagina é vista como um pênis interno, os lábios como o prepúcio, o útero como o escroto e os ovários como os testículos.
A crença da mulher como um homem invertido e, portanto, inferior, perdurou durante milhares de anos como se pode observar, na passagem em que Laqueur (2001), comenta a visão de Aristóteles:
kurios, a força do esperma para gerar uma nova vida, era o aspecto corpóreo microcósmico da força deliberativa do cidadão, do seu poder racional superior e do seu direito de governar. O esperma, em outras palavras, era como que a essência do cidadão. Por outro lado, Aristóteles usava o adjetivo akuros para descrever a falta de autoridade política, ou legitimidade, e a falta de capacidade biológica, incapacidade que para ele definia a mulher. Ela era, como o menino, em termos políticos e biológicos uma versão impotente do homem, um arren agonos. (LAQUEUR, 2001, p. 68)
O modelo de sexo único prevaleceu durante muito tempo por ser o homem — ser humano nascido com o sexo biológico masculino, ou seja, pênis — o alvo e construtor do conhecimento humano. Dentro dessa visão androcêntrica, a mulher consistia em uma categoria vazia.
Apenas quando se configurou na vida política, econômica e cultural dos homens a necessidade de diferenças anatômicas e fisiológicas constatáveis é que o modelo de sexo único foi repensado.
A visão naturalista que imperou até o final do século XVIII determinou uma inserção social diferente para ambos os sexos. Aos homens cabiam atividades nobres como a filosofia, a política e as artes; enquanto às mulheres deviam se dedicar ao cuidado da prole, bem como tudo aquilo que diretamente estivesse ligado à subsistência do homem, como: a fiação, a tecelagem e a alimentação.
Tal eixo interpretativo começou a mudar neste mesmo século, a partir da Revolução Francesa (1789). Nela as mulheres participaram ativamente do processo revolucionário ao lado dos homens por acreditarem que os ideais de igualdade, fraternidade e liberdade seriam estendidos a sua categoria. Ao constatar que as conquistas políticas não se estenderiam ao seu sexo, algumas mulheres se organizaram para reivindicar seus ideais não contemplados. Uma delas foi Olympe de Gouges. 
No século XIX há a consolidação do sistema capitalista, que acabou por acarretar profundas mudanças na sociedade como um todo. Seu modo de produção afetou o trabalho feminino levando um grande contingente de mulheres às fábricas. A mulher sai do locus que até então lhe era reservado e permitido — o espaço privado, e vai a esfera pública. Neste processo, contestam a visão de que são inferior aos homens e se articulam para provar que podem fazer as mesmas coisas que eles, iniciando assim, a trajetória do movimento feminista.
Ao questionar a construção social da diferença entre os sexos e os campos de articulação de poder, as feministas criaram o conceito de gênero, abrindo assim, portas para se analisar o binômio dominação-exploração construído ao longo dos tempos.
A violência contra a mulher traz em seu seio, estreita relação com as categorias de gênero, classe e raça/etnia e suas relações de poder. Tais relações estão mediadas por uma ordem patriarcal proeminente na sociedade brasileira, a qual atribui aos homens o direito a dominar e controlar suas mulheres, podendo em certos casos, atingir os limites da violência.
Em 1979, a Assembléia Geral das Nações Unidas adotaram a Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW), conhecida como a Lei Internacional dos Direitos da Mulher. Essa Convenção visou a promoção dos direitos da mulher na busca da igualdade de gênero, bem como, a repressão de quaisquer discriminações.
No contexto brasileiro, a década de 70 é marcada pelo surgimento dos primeiros movimentos feministas organizados e politicamente engajados em defesa dos direitos da mulher contra o sistema social opressor — o machismo.


A violência contra a mulher tem raízes profundas que estão situadas ao longo da história, sendo, portanto de difícil desconstrução. No Brasil, o início da década de 80 foi marcado pela forte mobilização dos sujeitos do sexo feminino em torno da temática da violência contra a mulher. Sua articulação em movimentos próprios, somada a uma intensa busca por parcerias com o Estado, para a resolução desta problemática, resultou em uma série de conquistas ao longo dos anos.
A desconstrução das redes que tecem a violência contra a mulher ainda levará muito tempo, porém, não seria utópico acreditar em seu término, na medida em que o que se construiu sócio-historicamente pode ter seu caminho refeito em outra perspectiva. Em curto prazo, faz-se necessário e urgente um ordenamento jurídico adequado e coerente com as expectativas e demandas sociais. Além disso, não basta que haja um ordenamento que tenha vigência jurídica, mas não tenha vigência social, isto é, que não seja aceito e aplicado pelos membros da sociedade.
O combate ao fenômeno da Violência contra Mulher não é função exclusiva do Estado; a sociedade também precisa se conscientizar sobre sua responsabilidade, no sentido de não aceitar conviver com este tipo de violência, pois, ao se calar, ela contribui para a perpetuação da impunidade. Faz-se urgente a compreensão, por parte da sociedade como um todo, de que os Direitos das Mulheres são Direitos Humanos, e que a modificação da cultura de subordinação calcada em questões de gênero requer uma ação conjugada, já que a violência contra a mulher desencadeia desequilíbrios nas ordens econômica, familiar e emocional."
Em suma a sociedade é construída pelas mulheres, somos as procriadoras e mantenedoras da  educação de nossa prole, só depende de nós mudarmos esta realidade, muito já foi feito, mas há muito a ser realizado, pois nós também somos enraizadas no "machismo social", então devemos quebrar paradigmas e reavaliar como estamos educando os nossos filhos.
Deixarei aqui uma pergunta:
Quem educa os meninos que um dia se tornam homens?
Tatiana Sampaio

Bibliografia
ALVES, Branca M.; PITANGUY, Jacqueline. O que é feminismo. 1. ed. São Paulo: Abril Cultural: Brasiliense, 1985.
BRASIL. Norma técnica de padronização: Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher – DEAMs. Brasília: Ministério da Justiça. Presidência da República, 2006.
EGGERT, Edla. Reconstruindo conceitos: da não-cidadania ditada por Rousseau e Kant para a aprendizagem da cidadã de hoje. Disponível em:. Acesso em: 27 mai. 2006.
FUNARI, Pedro Paulo A. Grécia e Roma. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2002.
GREGORI, M. F. Cenas e queixas: um estudo sobre mulheres, relações violentas e a prática feminista. 1. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; São Paulo: ANPOCS, 1993.
LAQUEUR, Thomas Walter. Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos Bibliografia
ALVES, Branca M.; PITANGUY, Jacqueline. O que é feminismo. 1. ed. São Paulo: Abril Cultural: Brasiliense, 1985.
BRASIL. Norma técnica de padronização: Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher – DEAMs. Brasília: Ministério da Justiça. Presidência da República, 2006.
EGGERT, Edla. Reconstruindo conceitos: da não-cidadania ditada por Rousseau e Kant para a aprendizagem da cidadã de hoje. Disponível em:. Acesso em: 27 mai. 2006.
FUNARI, Pedro Paulo A. Grécia e Roma. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2002.
GREGORI, M. F. Cenas e queixas: um estudo sobre mulheres, relações violentas e a prática feminista. 1. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; São Paulo: ANPOCS, 1993.
LAQUEUR, Thomas Walter. Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. Trad. Vera Whately. 1. ed. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.
PULEO, Alicia. “Filosofia e gênero: da memória do passado ao projeto de futuro”. In: GODINHO, Tatau; SILVEIRA, Maria Lúcia (Orgs.). Políticas públicas e igualdade de gênero. 1. ed. São Paulo: Coordenadoria Especial da Mulher, 2004. p.13.34.
SANTOS, C. M. Delegacias da Mulher em São Paulo: percursos e percalços. Disponível em: . Acesso em: 27 mai. 2006.
SCHRAIBER, Lilia B.; D'OLIVEIRA, Ana Flávia L. P. “Violência contra mulheres: interfaces com a saúde”. Interface – Comunicação, Saúde, Educação [online], v. 03, n. 05, p. 11-26, ago. 1999. Disponível em: 
Acesso em: 27 mai. 2006.
VRISSIMTZIS, Nikos A. Amor, Sexo e Casamento na Grécia Antiga. Trad. Luiz Alberto Machado Cabral. 1. ed. São Paulo: Odysseus, 2002.



9 comentários:

Wilson Caetano disse...

Excelente artigo Tati, parabéns.

Tatiana Sampaio disse...

Obrigada Wilson este artigo foi uma pesquisa bem interessante, amei fazer esta pesquisa e comentar alguns tópicos sob a minha óptica! Eu que te agradeço por divulgá-lo, temos que acabar com esta triste realidade! Logo escreverei sob o meu testemunho, pois um dia fui vítima de violência doméstica, o pai dos meus filhos me agrediu física e emocionalmente durante quatro anos e sei bem na pele sobre o assunto!

Anônimo disse...

É preciso coragem para a mulher comentar sobre esse abuso sofrido no convívio com esses covardes, é muita humilhação e nos sentimos como quem tivesse permitido isso, porisso, ficamos caladas e não é que aceitamos é que para toda ação existe uma reação e o que acontece com a mulher depois da denuncia, sobrecai unica e esclusivamente sobre ela, ninguem quer saber. Ou ela denuncia e aguenta as consequencias, piores, e sozinha ou ela se cala, enfim precisamos de coragem e tempo para contar o antes e o depois.... é dolorido e complicado

Tatiana Sampaio disse...

Logo irei escrevi o que vivi durante quatro anos, deste relacionamento só me restou três lindos filhos, muita coragem, garra e determinação para vencer! Irei aqui falar das minhas experiências e como consegui ter uma vida totalmente diferente e independente!
Obrigada pela contribuição1

Anônimo disse...

Sabe Tatiana, achei ótima essa sua iniciativa, divulga bem essa página. Eu penso muito em abrir uma Ong para ajudar essas mulheres no antes e depois, dar coragem a elas para denunciar e acompanhar financeira e psicologicamente no depois. Se vc quiser discutir sobre a idéia é só postar aqui. Ainda não tenho coragem de me expor com a violencia sofrida, fisica e psicologica, tenho muita vergonha.
Pode deixar recado para Dodo que era o nome que aquele safado usava para fazer promiscuidade pela internet.

Tatiana Sampaio disse...

Aqui no blog estás como anônima, mas amei a sua ideia e esta é a minha intensão ajudar as mulheres em vários parâmetros, vivi muito e tenho muito a contar, então se quiseres manter contato comigo deixarei o meu contato!
Juntas podemos ajudar a outras mulheres!
tatyrh06@hotmail.com

Tatiana Sampaio disse...

Se tiverem algo a testemunhar ou dicas do que eu possa escrever no blog entrem em contato comigo.
Contatos:
tatyrh06@hotmail.com
https://www.facebook.com/tatianasampaio.desousa
https://www.facebook.com/mundodamulher36

Anônimo disse...

Não à violência.

A vida pede respeito
Em tudo que a vida faz
Todo ser tem seu direito
E o ser humano é capaz
T odos nós temos defeito
E só um pouquinho de jeito
Poderemos viver em paz

Pra que usar de violência
Esse ato é a dor maior
O Homem de competência
Não deixa o semelhante só
Não agride a inocência
Pregará sempre a decência
Para mundo ser bem melhor

O que nos causa desconforto
Motivo de discussão
Quando se fala de aborto
Seu nome é violação
Quem tem vida quer um porto
Se o caminho se mostra torto
Deus aponta a direção

A vida mostra o retrato
Daquilo que não queria
Estupro e assassinato
Sequestro e pedofilia
Direitos vão para o mato
A violência é um fato
Acontecendo no dia a dia

O Senhor é o Deus capaz
É a luz da existência
Se a dor cresceu demais
Só Jesus tem à clemência
Quando promete ele faz
Hoje eu grito o sim da paz
E o não da violência.

Guibson Medeiros

Anônimo disse...

ótimo, vou te contatar. Desculpe a postagem como anonima é que estou em processo judicial de separação e danos psicologicos, minha vida esta sendo virada pra encontrarem provas, mas estou tranquila. Conheço inumeras mulheres desamparadas e precisamos fazer alguma coisa para ampará-las, penso que não se deve só atiçar como fizeram comigo e depois apoio foi zero. Todo mundo omite por ainda usarem a desculpa que em "briga" de casal não se mete. Um espanto.

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